Dia 23 de abril é dia do livro e eu preciso dizer o quanto pequenas atitudes fazem a diferença na nossa vida, o quanto pequenas doses de incentivo alimentam uma grande paixão.
Mudei-me para Cachoeiro de Itapemirim-ES aos 12 anos. Sempre curiosa, descobri, durante um trabalho escolar, a biblioteca municipal que funcionava na Casa de Rubem Braga. Entrei.
A atendente, talvez uma apaixonada, foi logo falando dos livros, da carteirinha para que eu pudesse pegá-los. Tímida, percorri as prateleiras e vi um livro que me chamou a atenção. Eu já havia lido um pequeno texto dele nas aulas de português durante meu estudo primário. Empolgada para conhecer toda a história, levei o livro para casa e o consumi em um dia. Nascia ali um amor eterno, a leitura. Voltei ansiosa três dias depois e peguei outros.
Por dois anos, eu pegava três livros a cada quinze dias na biblioteca. As dificuldades financeiras não me permitiam comprar.
Aos 14 anos deixei a escola e fui trabalhar em uma fábrica de costura. Minhas leituras ficariam de lado. Eu saía de casa às 5:45h e só retornava às 19:00h, o que impossibilitava a minha ida à biblioteca, que funcionava de 8:00h às 17:00h.
Não sei bem como fiz, mas encontrei uma forma dentro desse horário para entregar os três livros que eu tinha pegado emprestado da última vez. Na entrega, relatei que não poderia pegar outros, pois não teria como ir dentro dos horários.
A bibliotecária pensou um pouco e disse: “pega quatro. Eu vou modificar as datas aqui”.
Naquela época, tudo era feito à caneta. Então, ela alterou as datas de entrega e a cada vinte dias eu e ela tínhamos um encontro marcado na biblioteca. Aos sábados, ela abria só para mim, em um horário combinado, e por alguns anos eu pude continuar a ler todos os dias, mesmo sem dinheiro, contando com a biblioteca pública e com o incentivo e carinho de uma mulher maravilhosa.
Atualmente, adulta, percebo o quanto ela foi importante na minha vida, como ela marcou minha história, e sinto muito por não saber o nome dela, eu era jovem demais e acho que não percebi, na época, a importância e, por isso, não perguntei.
Mas, hoje, carrego comigo o carinho e o amor alimentados pelos livros através daqueles encontros aos sábados, às 8:00h, na biblioteca.

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