Há museus do Holocausto espalhados pelo mundo. Entramos neles em silêncio. Leitores de QR code na mão, olhos baixos diante de sapatos infantis empilhados, nomes em paredes de pedra, malas abandonadas. São lugares de dor congelada, memória organizada, culpa institucionalizada. Visitamos para lembrar, para nunca repetir.
Mas repetimos.
Hoje, a história escreve um novo capítulo — sem códigos de barras nem trilhos de trem, mas com as mesmas vítimas: civis, inocentes, crianças. Gaza virou um campo onde se mata de fome com método. Catorze mil bebês podem morrer em dois dias. Não pelas bombas. Pela ausência: de comida, de água, de ar.
E ninguém diz que não sabe. Está na TV, nos sites, nos relatórios da ONU. Está dito. Registrado. Mas ainda não foi suficiente para deter.
Talvez, um dia, ergam um novo museu. O Museu da Vergonha. Não em homenagem, mas em denúncia. Sem arquitetura futurista nem guias com crachá. Um espaço cru, sem distrações. Um corredor estreito com fotos de berços vazios, mamadeiras quebradas, mães com os braços vazios. Uma vitrine com pequenos corpos cobertos por cobertores de emergência, que não aquecem ninguém. E ao fundo, uma tela com o número: 14.000.
Quem sabe então, entre selfies e hashtags, alguém sinta o peso do que se permitiu acontecer. Quem sabe uma criança, em uma excursão escolar, pergunte à professora: “Por que deixaram?” E que a resposta venha sem floreio: porque era longe, porque era incômodo, porque parecia complicado, porque era mais fácil não ver.

Os museus do Holocausto nos lembram que a barbárie já aconteceu. O Museu da Vergonha, se um dia for erguido, será o lembrete de que ela nunca foi embora — apenas mudou de roupa, de fronteira, de método. E nós, mais uma vez, chegamos tarde demais.
Quem sabe, então, a frase “nunca mais” finalmente cobre sentido. Porque por enquanto, o mundo ainda escreve com sangue aquilo que depois fingirá lamentar com flores.

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