O Domingo de Ramos jamais será como antes.
Este domingo marca o início da Semana Santa, mas os seus ramos, após torrados e transformados em cinzas, serão utilizados para o início da próxima Quaresma, na distribuição das cinzas, que nos fazem refletir, que nossa vida apesar de única, contém ciclos singulares que nos edificam.
A Quinta-feira Santa jamais será como antes.
Na última Quinta-Feira Santa que ei ao lado do meu avô Josias Dias, ao acordar e ao sair da casa dele me deparo com dois palmitos margosos, deixados pelo meu vizinho Seu Nilso, que, como de costume, toda Semana Santa fazia questão de levar palmito para o vovô fazer sua torta de bacalhau com palmito, ou um simples refogado na a. Recordo-me que, desta vez, ele ficou triste, pois Seu Nilso deixou sem ninguém escutar e foi embora sem levar seu pedaço de bacalhau, que vovô comprava e dava em troca.
Faço memória também de Seu Augusto, meu padrinho, por ser casado com minha madrinha de Crisma, Neuza. Ele faleceu na Sexta-Feira Santa, retirando o palmito para a ceia. Essas são situações que nos modelam, que nos marcam e nos tornam pessoas diferentes. Hoje, sou quem sou, tendo um pouco de cada um deles comigo.
A Sexta-feira Santa jamais será como antes.
Quando criança, era costume buscar leite no curral do meu vizinho Neri, que sempre doava alguns litros, retirado por seu fiel ajudante Zé Coquinho. Hoje, os dois já se foram, busco leite com outros vizinhos, Rezi ou Clóvis, mas nunca me esqueço daquele curral. Que hoje já quase não existe mais, apenas restam algumas madeiras, sua estrutura foi tomada por matos, mesmo assim sempre que o perto, boas lembranças me vêm à mente.
Como a tradição comunitária que nos educa constantemente, que mesmo não sendo toda católica, ela se une para partilhar, a exemplo, na Semana Santa, o canjicão. Jamais esquecerei o canjicão feito por vovó Taí, que nunca deixou faltar, como também do meu avô Caboco, que enchia de amendoim para dar potência.
O Sábado de Aleluia jamais será como antes.
Não participo da celebração como antigamente, deixei de vê-la como cansativa e longa demais. Hoje, eu a compreendo melhor. Este deixou de ser um dia para me esbanjar em carne, compensando todo o jejum praticado inconsciente. Compreendo agora o jejum como algo que vai além de sagrado, como um ato de me policiar e provar o meu autocontrole.
O Domingo de Páscoa jamais será como antes.
Ainda comerei torta de palmito e bacalhau, como também o canjicão, mas nesses últimos tempos a mesa ficou vazia demais, vazia de sabedorias que se perderam junto com os meus ancestrais.

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