O colapso de uma geleira nos Alpes Suíços, que soterrou parte do vilarejo de Blatten, na região de Wallis, na quarta-feira (28), evidenciou os riscos crescentes provocados pelo aquecimento global nas regiões glaciais.
O episódio reacendeu o alerta para os efeitos do degelo acelerado, que ameaça tanto comunidades montanhosas quanto áreas costeiras em todo o mundo.
Segundo a ONU, quase 2 bilhões de pessoas dependem da água oriunda de geleiras e montanhas para consumo, agricultura e geração de energia.
Com o avanço das mudanças climáticas, geleiras estão derretendo duas vezes mais rápido do que há 20 anos. Entre 2000 e 2023, a massa de gelo perdida equivale a 46 mil pirâmides de Gizé, segundo a revista Nature.
Derretimento ameaça segurança e abastecimento
O impacto é sentido de diferentes formas. Em Huaraz, no Peru, 20% da água consumida vem do derretimento da Cordilheira dos Andes. Mas as geleiras andinas derretem ainda mais rápido, elevando o risco de inundações.
Um processo judicial movido por um morador local contra a gigante energética alemã RWE chamou atenção global: ele responsabiliza a empresa por contribuir com o aquecimento que ameaça sua casa, localizada abaixo de um lago glacial que já quadruplicou de volume.
Casos semelhantes ocorrem em outros países. Em outubro de 2023, o rompimento de um lago glacial no Paquistão causou estragos severos.
Na Índia, o transbordamento do lago Lhonak matou 179 pessoas no estado de Sikkim. Ao todo, pelo menos 15 milhões de pessoas vivem em áreas de risco de inundações glaciais, especialmente no sul da Ásia.
Já em outras regiões, o problema é o oposto: escassez. Após um pico inicial no volume de água dos rios, o derretimento atinge o chamado “pico da água”, quando a vazão a a diminuir.
Isso tem obrigado agricultores a mudarem suas práticas. No Chile, a hidrelétrica de Alto Maipo teve que ser desligada em 2021 devido à baixa vazão.
Ameaça ao nível do mar
O problema se estende às geleiras oceânicas. A geleira Thwaites, na Antártica Ocidental — conhecida como a “geleira do juízo final” — está derretendo de forma instável e pode elevar significativamente o nível do mar. Desde 1997, o degelo já fez os oceanos subirem quase 2 centímetros. Ilhas como Fiji e Vanuatu correm risco de desaparecer.
Mais de 1 bilhão de pessoas vivem a menos de 10 km do litoral em grandes cidades como Jacarta, Lagos e Mumbai, e os sistemas de contenção costeira têm se mostrado soluções apenas temporárias.
Cultura, economia e alternativas
O degelo também ameaça tradições culturais e economias locais. No Peru, a geleira Colquepunco, considerada sagrada, está desaparecendo, comprometendo um festival ancestral.
Na Europa, estações de esqui como a da geleira Presena, na Itália, já perderam um terço de sua cobertura de neve.
Estudos indicam que a neve natural nos Alpes pode reduzir em 42% até o fim do século, colocando em risco a viabilidade econômica do turismo de inverno.
Algumas comunidades têm buscado soluções locais, como sistemas de alerta precoce no Paquistão e geleiras artificiais na Índia. No entanto, especialistas alertam que medidas de adaptação são limitadas e que a única forma eficaz de conter o avanço do degelo é reduzir drasticamente o aquecimento global.
Fonte: Climatempo
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