O vinho, desde a Antiguidade, ocupa um lugar simbólico nas celebrações, nas trocas culturais, gerando conexão e rituais. E é nesse espírito de partilha e de reverência à bebida que nasceram as confrarias. Pode-se dizer que são pequenas associações que reúnem pessoas em torno de um propósito comum, muitas vezes com toques de solenidade, tradição e pertencimento. Entre as mais encantadoras dessas associações estão as confrarias de vinho, que resgatam o prazer de degustar com atenção e de aprender em grupo.
As raízes das confrarias
A palavra “confraria” tem origem no latim “confrater”, que significa “irmão”. Nasceu no seio da Igreja, durante a Idade Média, quando irmãos leigos se organizavam em torno de devoções, cuidados mútuos e atividades caritativas. Essas confrarias religiosas não tardaram a se expandir para outros âmbitos sociais; e o vinho, como protagonista de ritos e da vida cotidiana, encontrou aí um espaço natural.
Já no século XIV, registros indicam a existência de confrarias laicas dedicadas ao vinho na França e em Portugal. Eram formadas por viticultores, comerciantes e nobres que se reuniam para preservar a qualidade dos vinhos locais e garantir sua reputação. Com o tempo, essas confrarias aram a adotar rituais próprios, com vestes, insígnias, juramentos e cerimônias que remontam às ordens de cavalaria.

A mais célebre dessas agremiações surgiu na Borgonha, em 1934, em plena crise do setor vinícola francês: a Confrérie des Chevaliers du Tastevin. Sediada no magnífico Château du Clos de Vougeot, a confraria se dedicava à valorização dos vinhos da região com cerimônias solenes e festividades tradicionais. Esse modelo se espalhou pela França e por outras nações vinícolas, ganhando contornos culturais e até turísticos.
No Brasil, as confrarias de vinho começaram a surgir nos anos 1980, acompanhando o amadurecimento do mercado e o crescimento do interesse pela cultura do vinho. Hoje, existem confrarias em praticamente todos os estados, reunindo desde enófilos iniciantes até estudiosos e profissionais do setor.
Mais do que vinho: o espírito da confraria
Mas afinal, o que define uma confraria de vinho? Mais do que o simples hábito de beber em grupo, trata-se de um espaço de troca, de aprofundamento e de convivência. Uma confraria é uma comunidade de afinidades, um lugar onde o vinho é o ponto de partida para o diálogo, o aprendizado e o cultivo da amizade.
Embora não haja um modelo único, algumas características costumam se repetir: encontros periódicos, temas definidos para cada reunião, degustações orientadas e, por vezes, momentos de confraternização com pratos harmonizados. A informalidade pode coexistir com certa solenidade, especialmente em grupos que adotam títulos simbólicos, cerimônias de iniciação ou regras próprias de conduta.
Como montar uma confraria de vinho: um breve o o a o
- Encontre seus confrades
O primeiro o é reunir um grupo de pessoas com interesse genuíno pelo vinho. Idealmente, entre 6 e 12 membros para permitir uma boa troca e facilitar a logística dos encontros. Mais importante que o nível de conhecimento é o espírito aberto para aprender e partilhar. - Escolha um nome e defina o espírito da confraria
Um bom nome dá identidade ao grupo, pode ser inspirado na literatura, na geografia, na história do vinho ou mesmo em algo pessoal dos membros. Além disso, é importante alinhar expectativas: o foco será educativo? Gastronômico? Lúdico? Todas as respostas são válidas. - Estabeleça uma frequência e uma estrutura de encontros
A maioria das confrarias se reúne uma vez por mês. O modelo mais comum é utilizar a geografia como uma bússola para a escolha dos temas. Países ou regiões específicas. Também é muito comum a degustação às cegas, escondendo os rótulos e os confrades precisam acertar qual é o vinho apenas degustando. São muitas as opções, pois o mundo do vinho é muito versátil. - O papel do sommelier na confraria, faz a diferença
A imensidão de rótulos, preços e diversidade de escolha pode causar uma certa dificuldade na escolha e na organização da experiência. Um sommelier é o profissional treinado para orientar a escolha, as harmonizações e entender o espírito de cada confraria. A escolha dos vinhos adequados e uma harmonização bem conduzida, eleva muito o nível da experiência. Sem sombra de dúvida, o conhecimento compartilhado também é outro fator importante no serviço do sommelier. - Organize a logística
Alguém deve coordenar cada encontro: escolher o tema, definir quem traz o quê, preparar fichas de degustação, cuidar da sequência dos vinhos e eventualmente organizar harmonizações. Vale também investir em taças adequadas, iluminação neutra e temperatura correta dos vinhos. - Documente e compartilhe as experiências
Manter um registro dos encontros com notas, fotos, resumos das discussões e impressões sobre os vinhos, ajuda a acompanhar a evolução do grupo e pode se tornar um material precioso ao longo do tempo. Algumas confrarias criam blogs, contas no Instagram, newsletters ou até publicações próprias com as memórias das degustações. - Celebre com autenticidade
Uma confraria bem-sucedida é aquela que cultiva a leveza, o espírito lúdico e a curiosidade. O vinho é o protagonista, mas é o vínculo humano que dá sabor à experiência. Brindar, aprender, rir, errar e descobrir juntos: essa é a essência.
Em tempos em que o tempo é cada vez mais fragmentado e as relações parecem se diluir nas redes, as confrarias oferecem algo raro: a constância de um pequeno ritual, a presença real, o prazer da escuta. O vinho, que já foi moeda, remédio e símbolo do sagrado, continua sendo ponte entre pessoas, histórias e sentidos.
Fundar uma confraria é, de certo modo, resgatar o valor da convivência. E isso, nos dias de hoje, pode ser um ato profundamente revolucionário.
Já pensou em reunir seus amigos e fundar uma confraria?
Saúde!

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