A presença crescente de pessoas que cuidam de bonecos hiper-realistas, conhecidos como bebês reborn, tem despertado curiosidade e, muitas vezes, julgamento. Esses bonecos são artisticamente confeccionados para simular bebês reais, e são cuidados por adultos que os vestem, alimentam simbolicamente, colocam para dormir e, às vezes, os tratam como filhos.
A pergunta que surge é: o que está por trás dessa prática? Loucura? Carência? Excesso de fantasia? Ou será que há algo mais profundo — uma dor que busca expressão, um luto não verbalizado, uma maternidade simbólica?
Do ponto de vista da psicologia, o cuidado com o bebê reborn pode funcionar como uma ferramenta simbólica de elaboração emocional. Em muitos casos, essas bonecas são usadas em contextos terapêuticos — como no cuidado com idosos, pessoas com Alzheimer, ou mulheres que vivenciaram perdas gestacionais.
A psique humana tende a simbolizar o que não consegue resolver diretamente. Nesse sentido, cuidar de algo (mesmo que inanimado) pode representar a tentativa de restaurar laços afetivos rompidos ou elaborar frustrações profundas. A questão fundamental é: esse gesto está ajudando a pessoa a reencontrar equilíbrio, ou está impedindo que ela enfrente a realidade? O cuidado profissional e o discernimento são importantes.
A tradição cristã é rica em simbologia: ícones, imagens, velas, altares domésticos, tudo isso expressa o desejo humano de tornar visível o invisível. A fé católica não condena os símbolos — ela os acolhe como pontes que ligam o coração humano a uma presença maior.
Jesus não se esquivou da dor humana. Ele a assumiu e a redimiu. A pastoral da Igreja também é chamada a não se esquivar das dores silenciosas, nem das expressões de afeto que, mesmo não convencionais, revelam sede de consolo e desejo de acolhimento.
A comunidade cristã é chamada a ser espaço de acolhimento e escuta, não de julgamento. Não cabe rotular ou ridicularizar o que não se compreende à primeira vista. É preciso descer do pedestal do moralismo e subir ao nível da compaixão, como o bom samaritano da parábola.
A pergunta não deve ser “isso é normal?”, mas: “isso revela uma dor que precisa ser cuidada?”. E ainda: “como podemos, como Igreja, acompanhar essas pessoas com empatia, sem impor respostas prontas, mas caminhando ao lado delas?”
Talvez o mais cristão não seja explicar ou corrigir, mas escutar, acolher e caminhar junto. Porque por trás de cada gesto estranho, pode haver uma alma ferida pedindo espaço, silêncio e um pouco de ternura.

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