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dom 25/maio/2025 10:14
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A última corrida

ESCRITORAS CACHOEIRENSES - Dandara Dias. Letícia era uma menina negra, de cabelos crespos, magra, alta, desengonçada, que vivia no interior de Cachoeiro de Itapemirim, cidade situada no estado do Espírito Santo. A localidade onde residia se chamava Pedra do Itabira. O Pico do Itabira é um monumento natural da cidade, de beleza cênica única. Não havia ninguém que não se encantasse com esta paisagem.

Letícia era uma menina negra, de cabelos crespos, magra, alta, desengonçada, que vivia no interior de Cachoeiro de Itapemirim, cidade situada no estado do Espírito Santo. A localidade onde residia se chamava Pedra do Itabira. O Pico do Itabira  é um monumento natural da cidade, de beleza cênica única. Não havia ninguém que não se encantasse com esta paisagem.

Letícia, uma criança simples e ingênua, não entendia como a vida era complicada, vivia na alegria de uma garotinha que tinha a melhor vida possível. Certo dia, conheceu Flavinha, uma amiga encantadora e juntas desbravavam a redondeza, vivendo grandes aventuras.

Flavinha era magrinha e também usava óculos como Letícia, mas diferente, de pele branca, cabelos louros, longos, cachos soltos, e também bastante esperta, pois vinha da cidade. Diferente de uma moça do interior, como Letícia, ela conhecia as dificuldades do mundo lá fora. Flavinha não tinha medo e, em poucos dias morando na região, já conhecia toda a vizinhança, mais do que Letícia que, por ser tão inocente, morria de medo de quase tudo.

    Letícia foi criada aos mimos e proteção de sua família, principalmente de sua mãe Maria, que a privou de muitas vivências com medo dela se machucar. Lele morria de medo de cobra, galinha, nunca subira em árvore, não parecia que nascera na roça. E não parava por aí, morria de medo de ser perseguida. Medo que lhe afetava em muitas situações.

Não brincava de pique, mal nadava, mal corria, pois em um determinado momento, imaginava-se sendo perseguida e a brincadeira tornava-se desesperadora e assustadora.

  Ao perceber o medo de Letícia, Flavinha se espantou, não acreditava no que havia escutado. Nunca pensou em conhecer uma pessoa que tinha medo de correr… Sim! Correr! Esse era o maior medo de Letícia, em decorrência de traumas anteriores e superproteção de sua mãe, já que vivia doente, anêmica e fraca. Assim, foi a partir deste momento que Flavinha se comprometeu a ajudar Letícia a perder esse medo. Pois correr era a maior habilidade de Flavinha.

    As duas estudavam na mesma escola, pois naquela comunidade só havia uma escola, onde todos estudavam em uma mesma sala, e isso era a maior alegria da garotada. O caminho de volta para casa era o mesmo, por isso Flavinha viu a possibilidade de ajudar Letícia todos os dias no caminho que percorriam juntas.

 Letícia ficou maravilhada pela oportunidade de perder o medo, mal esperava o dia do primeiro treino de corrida. Quando o momento chegou, Flavinha iniciou mostrando à amiga como deveria ser a postura das mãos, pois que os dedos deviam ficar próximos e as mãos retas, para que cortasse o vento e ele asse por ela sem prejudicar a velocidade.

  As aulas seguiam, o caminho de casa ou a gastar mais tempo, em meios aos pedregulhos e pedras soltas na estrada, as duas desafiavam a física, aumentando cada vez mais a velocidade. Lele encontrou uma amiga que não apostava corrida, que não corria atrás dela para zoá-la, mas uma amiga que caminhava junto, corrida ao seu lado e, o melhor, lhe dava força e apoio.

  Dias se aram, Letícia ia melhorando cada vez mais , porém, ainda sentia medo de correr e, principalmente, quando alguém corria junto com ela, mas havia melhorado muito. Suas corridas estavam cada dia mais velozes, principalmente por ter as pernas mais longas de toda garotada, ela começou deixar seus amigos para trás nas corridas. Pela primeira vez na vida, Letícia estava ganhando nas brincadeiras de atividades físicas.

  Mas não só mudanças físicas ocorreram, Letícia estava ganhando muita confiança em si. ou a acreditar muito em sua potencialidade. Pela primeira vez na vida ela enfrentou seus medos. Mas nem tudo dura para sempre.

Num certo dia, seguindo rumo à escola, não encontrou Flavinha pelo caminho. Pensou, então, que naquele dia ela iria faltar aula. O tempo ou, e Flavinha não apareceu, foi quando Letícia descobriu, por uma tia de sua amiga, que ela havia se mudado com a família. Sem despedida.

 – Foi embora? Mas como assim? Quando poderei ver novamente minha amiga?

 – Foi preciso. Nem eu sei direito para onde a família foi.

Foram as palavras da tia de sua amiga ao contar a notícia.

Lelê ficou desesperada, perdendo uma grande amiga. A tristeza bateu em seu peito, mas não a raiva, pois entendeu que, mesmo em pouco tempo, aproveitou ao máximo sua amiga. Infelizmente, não encontrou outra amizade como aquela. Ninguém a ajudou a trabalhar seus medos.  

Letícia nunca mais viu sua amiga e nunca mais correu. A saudade e o medo de correr são duas coisas que a acompanham até os dias de hoje.

Dandara Dias. Mulher, negra, filha de lavradores, professora, historiadora, artista, agente cultural, educadora social, ativista ambientalista e anti racista. Descobriu-se negra tardiamente, devido ao racismo estruturado em nossa sociedade e atua como ativista antirracista desde então. Encontrou-se escritora aos 28 anos, após retratar suas lutas através da escrita. Valoriza a história local e a oralidade. Além disso, é Assessora Técnica da Comissão de Justiça e Paz, Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, também coordenadora diocesana da Pastoral Afro-Brasileira. Ministra da Palavra na CEB’s Comunidade Nossa Senhora da Penha, Itabira, assim como, vice-presidente da Associação da localidade Pedra do Itabira. Idealizadora dos projetos “Dandara Vive em Mim”, “Histórias que meus avós contavam”, “Kitanda Cultural”, “Sou da Quebrada”, “Espaço cultural Dandara”, este último contém a biblioteca comunitária.

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